Coluna no Jornal Opinião Regional - 03.08.18
Após a copa de 1950 e, com a
derrota brasileira para o Uruguai, também conhecida como “maracanaço”, o
escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues criou a expressão, que inicialmente era
só usada na área futebolística, complexo de vira-lata, que se referia ao trauma
sofrido após a perda do campeonato mundial, o que, viria a se repetir após 64
anos, aí com uma acachapante derrota para a Alemanha por 7x1 em pleno estádio
do Mineirão em Belo Horizonte.
No Wikipédia encontramos a
definição por complexo de vira-lata como “a inferioridade em que o brasileiro se coloca,
voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às
avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos
pessoais ou históricos para a autoestima". Nos dias atuais isto está mais
evidenciado que nunca, nosso status de não nos valorizarmos, apenas produzir
fatos negativos, mesmo tendo muita coisa boa para ser explorada, nos impomos
diariamente vendas com o intuito de enxergamos apenas o escuro que existe em
nosso redor, impedindo que o sol brilhe para nós. O colunista em tópicos
tentará retratar um pouco desta realidade que está em nossa rotineira vida
cotidiana.
Esporte
Rubens Barrichello construiu uma linda carreira na
Fórmula 1. Para o brasileiro isso não importa, é um nome reconhecido
mundialmente e alvo de gozação de nossa parte, igualmente Felipe Massa padeceu
da descrença do povo deste país. Neymar Junior merece e muito ser criticado
pela falta às vezes de profissionalismo, de outro lado por tentar ser mais
visível que a bola em um campo de futebol, mas esquecer a inédita medalha de
ouro nas Olimpíadas do Brasil, e, ficar enaltecendo Messi e Cristiano Ronaldo
como se eles fossem a oitava maravilha mundial. O argentino é contestado em seu
país justamente por não ter conseguido até hoje ser protagonista em uma
conquista dos platinos. Quantas crianças em estado de vulnerabilidade social a
fundação Cristiano Ronaldo atende? Ela existe? Se me permitirem perguntar e
responder, digo que Cristiano Ronaldo é um dos que mais investe ou o que mais
investe em caridade dentre os esportistas de todas as categorias, mas, entre os
dez está Neymar Junior, esse que é massacrado pelos brasileiros por não fazer
nada, sendo que o outro idolatrado por nós Messi, nem aparece entre os que
ajudam. Não quer dizer que nada faz, apenas que o brasileiro está muito mais
presente que ele, e nós não valorizamos, e como está no conceito do nosso
“viralatismo”, “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente,
em face do resto do mundo.” Assim nós gostamos de sermos inferiores, mesmo em
muitas ocasiões sendo superiores.
Poderia falar de Marta da Seleção Brasileira
Feminina, dez vezes na relação das melhores jogadoras do mundo, qual o valor
que damos a isso? Medalhas, conquistas e hegemonia no vôlei mundial. Nomes brasileiros que brilharam no esporte e
são reconhecidos mundialmente: Pelé, Airton Senna, Garrincha, Gustavo Kuerten,
Adhemar Ferreira da Silva, Eder Jofre, Maria Ester Bueno, Ronaldo Fenômeno,
Oscar do Basquete, Robert Scheid, César Cielo, Hortência, Paula, Emerson
Fittipaldi, Romário e poderia listar uma enormidade de nomes, passando de cem
nomes que são reconhecidos mundialmente, a maioria não seria reconhecida no
Brasil.
Política
Neste quesito então somos especialistas, além de
nossa depreciação natural, ainda estamos envolvidos em uma briga de bom contra
ruim, o demônio contra o salvador, sendo que o “demo” é aquele que é nosso
adversário e, o salvador da pátria é nosso simpatizante político. Gostamos de
colocar todo mundo na mesma panela, com a ajuda de uma colher de pau grande,
mexer bem o caldeirão e, fazer de conta que tudo está errado, como se este
fosse o último país do mundo.
Nem tanto ao céu ou terra devemos estar, como
profissional do rádio se, um pequeno número de colegas fossem safados, me
guiando da forma que o brasileiro se posiciona, todos seriam safados. Na mesma
linha se um médico cometesse um erro médico e deixasse vir a óbito um paciente,
em virtude disso, seria errado eu dizer que todos os médicos são negligentes,
afinal em sua imensa maioria eles salvam vidas. Na operação lava-jato, um número
mínimo de políticos está envolvido, basta olharmos o número de cargos que
existem nessa área e o número de pessoas envolvidas. Se fizermos isto,
chegaremos a conclusão que o número de pessoas que não é correta é mínimo, mas,
no Brasil nenhum político presta. Façamos um exercício, na sua cidade, entre
vereadores, secretários, cargos de confiança, funções gratificadas, prefeito e
outros cargos políticos, quantos nomes foram envolvidos em algum suposto caso
de desvio de recurso público, a minoria ou a maioria? Lembrando sempre que
fazemos o julgamento definitivo, é safado(a) e pronto. Como gostamos de nos
denegrir, pois é importante lembrar, que estas pessoas não foram para lá
sozinhos, mas sim, por nós eleitas.
Em resumo
Este país tem muitas coisas boas, mas, irão me
perguntar onde elas estão? Temos cerca de trinta empresas entre as maiores e
melhores do mundo, mas, preferimos reclamar em vez de valorizar o que temos de
bom. Nosso complexo de “viralatismo” nos permite aplaudir empresário e
profissionais liberais que não emitem nota fiscal e metem o “pau” nos governos,
achamos certo pessoas abastadas buscarem no SUS abrigo, quando estão retirando
de pessoas necessitadas as vezes valores que farão falta a eles, tudo em nome de
denegrir a imagem do país, município e estado. Estamos longe de sermos um país
que as pessoas fogem, mas, alguns por opção se refugiam nos Estados Unidos da
América para trabalhar sem carteira, onde não tem SUS, férias são restritas,
etc, se estão no país são contra a reforma trabalhista. Bom poderia ficar
escrevendo mais duas horas sobre o assunto, na verdade, precisamos deixar de
ser vira-latas, e nos valorizarmos mais. Na verdade eu gostaria de ser um
Dobermann a partir de agora, nada contra o simpático cãozinho que nos diverte e
faz companhia, queria ser promovido, pois se Nelson Rodrigues escreveu isto há
68 anos, até hoje não fomos promovidos e adoramos nos rebaixar.
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